
Emoções Fragmentadas
Em seu clássico ensaio On popular music, o filósofo Theodor Adorno (1903-1969) procura mostrar - já em 1941 - como o ouvinte de música de massa é submetido a um mecanismo de imposição e repetição mecânica de produtos lançados por aqueles que detêm o poder sobre os meios de comunicação.
Sua análise mostra como a repetição massiva de músicas cria um estado de "reconhecimento fabricado", e esse reconhecimento tende a se transformar rapidamente em aceitação passiva.
Nas palavras de Rodrigo Duarte (2007, p. 131), o "já ouvi isso antes" torna-se "essa é minha música", e a consequência é o juízo de valor, "é uma ótima música".
No mesmo texto, Adorno identifica dois tipos básicos de escuta, denominados por ele respectivamente como "ritmicamente obediente" e "emocional". O primeiro grupo, do qual não traremos com detalhe aqui, é o que privilegia o beat, o pulso métrico, a batida regularmente repetida. Já a escuta emocional é relacionada, por exemplo, aos filmes melodramáticos.
Afirma Adorno:
O ouvinte emocional escuta tudo em termos do romantismo tardio e das mercadorias musicais dele derivadas, que já são talhadas para se ajustar às necessidades da escuta emocional. Eles consomem música a fim de serem autorizados a chorar. Eles são tomados pela expressão musical de frustração mais do que alegria [...]. Isso é catarse para as massas, mas catarse que as mantém mais firmemente na linha. (Duarte, 2007, p. 132)
Sidney Molina
Cuidar de pessoas e música